segunda-feira, 23 de julho de 2012

A propósito do Festival Internacional de Folclore de Braga

As diferenças entre a nossa forma de comunicação folclórica e a dos povos que nos visitaram são óbvias e por isso mesmo merece a pena descrevê-las e considerá-las: enquanto nós mantemos o formato de grupo etnograficamente situado e circunscrito, eles inspiram-se na etnografia para desenvolverem conteúdos de animação folclórica; enquanto nós mantemos o grupo virado para si próprio, eles viram o grupo continuamente para o público, enquanto nós mantemos uma identidade local dos conteúdos, eles investem numa identidade nacional. Evito juízos de valor, porque ambas as fórmulas têm virtualidades, mas não receio entrar por eles se considerarmos que o nosso estilo não evoluiu desde que o começámos a praticar. É claro que eu não desdenharia ver um grupo irlandês, para usar o caso mais sintomático de mudança de paradigma que esteve no festival, que trouxesse as danças, os trajes e as cantigas da sua «aldeia», mais os objectos de lavoura ou de artesanato ou sinais de qualquer outra actividade «manual» que fossem símbolos locais do seu percurso histórico, mas verifico que essa possibilidade é cada vez mais remota de acontecer num festival dito internacional. Ora é precisamente aqui, nesta comparação em termos absolutos, que pode estar uma polémica interessante em que eu espero que os leitores deste blogue entrem de boa fé.
José Machado

1 comentário:

  1. Em consequência de algumas palavras da apresentadora do festival, fico com a ideia de que quase todos os estrangeiros que participaram são grupos profissionais que têm um espectáculo montado e ensaiado especificamente para apresentações fora dos seus países de origem. Não creio que apresentem o mesmo "show" internamente. Repare-se que o corpo de dança, sobretudo nos grupos dos países de leste europeu, são constituídos sempre por gente jovem, apesar de os grupos terem sido fundados há muitos anos. Seria possível a um grupo folclórico português montar um espectáculo só para "levar lá fora", com 2 ou 3 trocas de traje em 30 ou 40 minutos?? Poder, até acho que podia mas certamente não iria mostrar aos estrangeiros as genuínas danças e cantares tradicionais e populares, assim como me parece que os griupos estrangeiros não mostram nas suas actuações em Portugal.H. Viana

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