domingo, 17 de julho de 2011

Os fios e nós da moda velha

29/jul. a 3/set. 2011
Exposição sobre trajes folclóricos

CECÍLIA DE MELO (1934-2009)
Os fios e nós da moda velha
Casa dos Crivos
Seg. a Sex. das 9:30/12:00 - 15:00/18:30, Sáb. 15:00/18:00
entrada livre
Esta exposição de trajes, e outras peças de vestuário e sua confecção, documenta uma metodologia de trabalho no interior do movimento folclórico local e regional, a qual espelha, em primeiro lugar, a dedicação da sua autora, a professora Cecília de Melo, à temática dos trajes e dos trajares, populares, folclóricos e outros, e, em segundo lugar, dá continuidade a este diálogo cultural entre instituições da cidade e pessoas singulares para a criação de um museu específico.

Depois de uma fase de tipificação dos trajes regionais do Baixo-Minho e que culminou na identificação do «traje de encosta», «traje da capotilha», «traje de Sequeira», «traje de Vale d’Este» e «traje da Ribeira» como principais paradigmas de uma tipologia – trabalho matricial do Grupo Folclórico Dr. Gonçalo Sampaio – passou-se a uma segunda fase, que podemos considerar de alargamento panorâmico da representação social, a qual fez mostra de trajes de trabalho ou de uso quotidiano e outros modos de trajar da sociedade camponesa e urbana em momentos cerimoniais, de convívio, de mercado e de passeio.

Para garantir o fornecimento de peças, numa e noutra fase, completaram-se os trabalhos de recolha e de preservação de peças originais, com os trabalhos de retoma e de recriação e com os trabalhos de reprodução. Estes últimos, os trabalhos de confecção dos trajes, fosse nas mãos dos artífices, as tecedeiras e as costureiras e os alfaiates, em contexto de oficina, ateliê ou fábrica artesanal, fosse nas mãos de aprendizes dentro do grupo familiar, fosse em contexto escolar ou programa de ocupação de tempos livres, promoveram o aparecimento de pessoas curiosas, estudiosas e especialistas, todas imbuídas de um sentimento de «emulação» pelas «coisas» das culturas tradicionais de cada região, de cada terra, de cada grupo social, se não mesmo, em muitos casos, do país.

Mostram-se peças, materiais, métodos e procedimentos, fases de processo, provas, riscos e desenhos, fragmentos e restos – tudo para documentar este objecto do conhecimento a que chamamos a roupa tradicional, mas também a roupa de uma época. A sua autora percorreu os caminhos normais da documentação, a recolha, a análise e observação de peças originais, o estudo sistemático das fontes, a comparação, experimentou e praticou as regras elementares do «corte e costura», formou-se e especializou-se em matérias afins, ensinou outros, deu-se aos caprichos da variação discreta e funcional.

No folclore minhoto, é recorrente o adjectivo «velho» aplicado a pessoas, trajes e cantigas, com esse significado instalado de marcar a idade, a antiguidade, a tradição. Todavia, como bem interpretou Moisés Espírito Santo, torna-se essencial que o radical «vel» recupere o seu sentido «solar» e o adjectivo se abra para o significado de vital, imprescindível, fonte de vida. Assim, velho é o antigo, o que tem muitos anos, o que se faz há muito tempo, mas é também o que faz falta, o que garante a sobrevivência da vida, aquilo sem o qual não podemos passar. A moda velha, cantada, vestida ou simplesmente possuída pelos anos, remete-nos para um passado de longa duração a que se contrapõe um presente de mudanças efémeras e variadas, passado esse que é sempre imprescindível tomar como terra de renovo. Que seria de fios sem nós e de nós sem fios? (JM/ACFSS/Braga/2011)

Última nota: leve, desta exposição, o seu retrato!

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